terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Saudação Sonhadores!

Apresentamos aqui para vocês o resultado final de um trabalho desenvolvido durante a disciplina Estudos científicos dos sonhos, do curso de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. A idéia da disciplina era estudarmos os trabalhos científicos desenvolvidos sobre os sonhos em diversas abordagens, partindo de Freud até chegarmos às Neurociências.

Como trabalho de encerramento da disciplina resolvemos abordar o seguinte tema: como diferentes psicoterapias fazem uso dos sonhos durante seu trabalho terapêutico. Nosso intuito não foi aprofundar nas teorias em si, mas fornecer uma visão geral aos leitores de como cada terapia lida com os sonhos que comumente são trazidos por seus pacientes.

Acreditamos que apresentar as diferenças e semelhanças de como o sonho pode ser tratado na prática de diferentes abordagens, pode ilustrar melhor a teoria por trás daquela interpretação, bem como trazer elementos construtivos para aqueles que pretendem estudar os sonhos.

Esperamos assim, ter contribuído para a transmissão do saber científico de uma forma que possa ser acessível e compreensível a todos.

Sejam bem vindos e... Bons sonhos!

O Sonho na Gestalt-terapia


















Sonhos...

"Eu me conto em segredo, em verdades ocultas

que sempre soube mas que não podia

saber. E, neste jogo ardiloso, vou

descobrindo, surpreso e perplexo, aquilo

que sou mas que não podia ser. Mas,

sempre fui sem poder saber!

Eu sonho!"

"Um dia sonhei que era EU e quando

acordei descobri que vivia um NÃO-EU

Mas, em que enrascada danada eu tinha me metido,

Pois vivia no sonho e sonhava na vida."

Victor R. C. da Silva Dias

Gestalt-terapia é uma abordagem existencial que tem como uma de suas bases a Psicologia da Gestalt, porém, é importante ter em mente que existem outras bases teóricas e filosóficas de grande influência para ela, como a fenomenologia, o humanismo e o existencialismo, por exemplo. Foi Frederick Pearls que desenvolveu a Gestalt-terapia, em que é dada uma importância à existência total da pessoa, sem restringir-se aos sintomas ou à estrutura da personalidade (Santos, 2004). A idéia é de que o cliente é o principal responsável por sua vida e as escolhas que faz durante ela (Teixeira, 2005). A abordagem gestaltista tenta compreender o “como” e não o “porquê” dos eventos que ocorrem na existência.

Segundo Santos (2004), mais do que um produto psíquico, para a gestalt-terapia, o sonhar passa a ser entendido com base na estrutura existencial que compõe o homem enquanto ser humano, é uma manifestação do próprio existir do sonhador, expressando seu modo de ser no mundo, seja em relação consigo mesmo, com os outros ou com os demais entes que o cercam, sendo que a preocupação se volta à própria existência do sonhador, e não à relação causal originadora de qualquer manifestação onírica. Pearls (1966) considerava os sonhos como a produção mais espontânea que temos, frutos e reflexos de vivências atuais, expressão do que se vive agora (apud Teixeira, 2005).

O sonho traz claramente a realidade específica do sonhador e externaliza os conflitos interiores, produzidos pela alienação de aspectos da personalidade, pela atitude fóbica da pessoa ante a possibilidade de tomada de consciência de si própria, sendo importante, então, o trabalho com o sonho (Santos, 2004). Por essa razão, o sonho mostra-se como uma mensagem velada. Santos (2004), citando Pearls (1977), declara que o sonho comunicaria a situação de vida do paciente e o que deveria ser mudado na sua existência, e que os elementos do sonho correspondem a um potencial ainda desconhecido e que precisa ser desenvolvido para alcançar uma maturidade existencial.

Ao citar Pearls, Santos (2004) ainda afirma que sonhos repetitivos representam conflitos que não foram resolvidos e um possível entrave no crescimento do sonhador; que o entendimento dos sonhos pode contribuir para o entendimento de sintomas psicóticos; que sonhadores que não apresentam seres vivos em seus sonhos, ou que apresentam outros modos de dissolução completa do mundo e de si mesmo devem tomar cuidado, pois trata-se de sintomas esquizofrênicos; e também que o esquecimento dos sonhos pode estar relacionado a pessoas fóbicas, que se recusam a lembrar e encarar sua própria existência, evitando lidar com o desagradável.

Teixeira (2005) e Santos (2004) afirmam que Pearls utilizava a técnica de dramatização para o cliente descrever e reviver seu sonho, em que a pessoa desempenha todos os papéis apresentados em seu sonho conta seu sonho no momento presente, como se estivesse acontecendo agora. Depois, o terapeuta escolhe algum elemento do sonho que parece trazer um significado de conflito existencial e pede ao sonhador para ser esse elemento, representando-o. O objetivo dessa técnica é favorecer o contato dela com os elementos do sonho, trazendo-os para o presente por meio da ação. Os autores completam, dizendo que a função do terapeuta passa a ser a de um facilitador, não fazendo interpretações, mas orientando o cliente na reapropriação de suas características rejeitadas, projetadas para fora de si, e deixando-o achar o significado no presente. Por identificação, a pessoa percebe em si mesma as qualidades daquilo que está representando, reconhecendo-as como qualidades até então fragmentadas de sua própria personalidade.

Em suma, função do sonho é apontar para aquilo que o indivíduo resiste em si mesmo, objetivando um encontro do paciente exatamente com aquilo que ele necessita reassimilar, por meio de um aprendizado proporcionado pela identificação e tomada de consciência (Santos, 2004).

Referências

Santos, I. P. do A. (2004) Fenomenologia do onírico: a gestalt-terapia e a daseinsanálise. Psicol. cienc. prof. v.24 n.1 Brasília.

Teixeira, J. D. (2005) Sonho em Gestalt – Terapia Breve: uma vivência no aqui e agora. IGT. nº 3. Acedido em 28 de novembro de 2009, em http://www.igt.psc.br/revistas/R3/.


por: Valéria Yoshida