Sonhos...
"Eu me conto em segredo, em verdades ocultas
que sempre soube mas que não podia
saber. E, neste jogo ardiloso, vou
descobrindo, surpreso e perplexo, aquilo
que sou mas que não podia ser. Mas,
sempre fui sem poder saber!
Eu sonho!"
"Um dia sonhei que era EU e quando
acordei descobri que vivia um NÃO-EU
Mas, em que enrascada danada eu tinha me metido,
Pois vivia no sonho e sonhava na vida."
Victor R. C. da Silva Dias
Gestalt-terapia é uma abordagem existencial que tem como uma de suas bases a Psicologia da Gestalt, porém, é importante ter em mente que existem outras bases teóricas e filosóficas de grande influência para ela, como a fenomenologia, o humanismo e o existencialismo, por exemplo. Foi Frederick Pearls que desenvolveu a Gestalt-terapia, em que é dada uma importância à existência total da pessoa, sem restringir-se aos sintomas ou à estrutura da personalidade (Santos, 2004). A idéia é de que o cliente é o principal responsável por sua vida e as escolhas que faz durante ela (Teixeira, 2005). A abordagem gestaltista tenta compreender o “como” e não o “porquê” dos eventos que ocorrem na existência.
Segundo Santos (2004), mais do que um produto psíquico, para a gestalt-terapia, o sonhar passa a ser entendido com base na estrutura existencial que compõe o homem enquanto ser humano, é uma manifestação do próprio existir do sonhador, expressando seu modo de ser no mundo, seja em relação consigo mesmo, com os outros ou com os demais entes que o cercam, sendo que a preocupação se volta à própria existência do sonhador, e não à relação causal originadora de qualquer manifestação onírica. Pearls (1966) considerava os sonhos como a produção mais espontânea que temos, frutos e reflexos de vivências atuais, expressão do que se vive agora (apud Teixeira, 2005).
O sonho traz claramente a realidade específica do sonhador e externaliza os conflitos interiores, produzidos pela alienação de aspectos da personalidade, pela atitude fóbica da pessoa ante a possibilidade de tomada de consciência de si própria, sendo importante, então, o trabalho com o sonho (Santos, 2004). Por essa razão, o sonho mostra-se como uma mensagem velada. Santos (2004), citando Pearls (1977), declara que o sonho comunicaria a situação de vida do paciente e o que deveria ser mudado na sua existência, e que os elementos do sonho correspondem a um potencial ainda desconhecido e que precisa ser desenvolvido para alcançar uma maturidade existencial.
Ao citar Pearls, Santos (2004) ainda afirma que sonhos repetitivos representam conflitos que não foram resolvidos e um possível entrave no crescimento do sonhador; que o entendimento dos sonhos pode contribuir para o entendimento de sintomas psicóticos; que sonhadores que não apresentam seres vivos em seus sonhos, ou que apresentam outros modos de dissolução completa do mundo e de si mesmo devem tomar cuidado, pois trata-se de sintomas esquizofrênicos; e também que o esquecimento dos sonhos pode estar relacionado a pessoas fóbicas, que se recusam a lembrar e encarar sua própria existência, evitando lidar com o desagradável.
Teixeira (2005) e Santos (2004) afirmam que Pearls utilizava a técnica de dramatização para o cliente descrever e reviver seu sonho, em que a pessoa desempenha todos os papéis apresentados em seu sonho conta seu sonho no momento presente, como se estivesse acontecendo agora. Depois, o terapeuta escolhe algum elemento do sonho que parece trazer um significado de conflito existencial e pede ao sonhador para ser esse elemento, representando-o. O objetivo dessa técnica é favorecer o contato dela com os elementos do sonho, trazendo-os para o presente por meio da ação. Os autores completam, dizendo que a função do terapeuta passa a ser a de um facilitador, não fazendo interpretações, mas orientando o cliente na reapropriação de suas características rejeitadas, projetadas para fora de si, e deixando-o achar o significado no presente. Por identificação, a pessoa percebe em si mesma as qualidades daquilo que está representando, reconhecendo-as como qualidades até então fragmentadas de sua própria personalidade.
Em suma, função do sonho é apontar para aquilo que o indivíduo resiste em si mesmo, objetivando um encontro do paciente exatamente com aquilo que ele necessita reassimilar, por meio de um aprendizado proporcionado pela identificação e tomada de consciência (Santos, 2004).
Referências
Santos, I. P. do A. (2004) Fenomenologia do onírico: a gestalt-terapia e a daseinsanálise. Psicol. cienc. prof. v.24 n.1 Brasília.
Teixeira, J. D. (2005) Sonho em Gestalt – Terapia Breve: uma vivência no aqui e agora. IGT. nº 3. Acedido em 28 de novembro de 2009, em http://www.igt.psc.br/revistas/R3/.
por: Valéria Yoshida