B. F. Skinner. Um dos precursores
da Análise do Comportamento
Antes de dizer como os terapeutas comportamentais lidarão com os sonhos de seus pacientes, precisamos dizer que para a Análise do Comportamento, os sonhos nada mais são do que comportamentos encobertos, assim como o pensar e o sentir, mas que se manifestam durante o sono. A única diferença de um comportamento encoberto ou privado para os demais comportamentos, é que eles ocorrem no interior dos indivíduos, sendo portanto, somente acessíveis diretamente ao indivíduo no interior de quem ocorre. Mesmo assim, são tão físicos quanto o comportamento público e por isso podem ser interpretados com os conceitos da ciência do comportamento. E para poder ter acesso a esses comportamentos, o cliente precisa torná-los acessíveis ao terapeuta, e isso só é possível através do relato verbal.
Estes comportamentos, tais como os sonhos, serão importantes para o trabalho em terapia comportamental, uma vez que os terapeutas comportamentais passaram a ver nos sonhos um importante instrumento de coleta de dados, pois, através de um relato de sonho, o terapeuta pode ter acesso a fatos da história passada ou atual do cliente, que diretamente não seriam explicitados ou demorariam mais tempo para sê-lo.
Mas antes de qualquer tentativa de interpretação, é fundamental que o terapeuta comportamental conheça seu cliente e seu repertório para poder fazer uma interpretação funcional do seu sonho, uma vez que não há significados universais, nem resposta única. Deve-se deixar bem claro que a interpretação do sonho não é correta ou incorreta em si mesma. O que importa é a função que a interpretação tem.
O procedimento comumente utilizado quando um cliente leva um sonho para a terapia envolve o sonho ser relatado pelo cliente, sendo até estimulado a escrevê-lo. Em seguida, o terapeuta solicita que o cliente dê sua interpretação acerca de seu sonho, com isso o terapeuta objetiva captar como o cliente integra os dados de seu sonho com sua história de vida e seu contexto atual. Logo após, o terapeuta pode apresentar sua interpretação, ou seja, como sistematiza e integra os dados oriundos do sonho com outros dados trazidos pelo cliente. E, nesse processo, o terapeuta busca dar estímulos discriminativos para o cliente compreender as contingências de reforçamento, que estão em operação. E por fim do processo de análise, o resultado deve incluir previsão e controle do comportamento, e é este resultado que comprovará a utilidade de uma interpretação.
Deste modo, enfatiza-se o uso dos sonhos na terapia comportamental, como mais uma forma, dentro de um processo global, de se buscar dados para que terapeuta e cliente, juntos, possam discriminar quais as contingências de reforçamento que controlam o comportamento deste. Sugere-se que, pelo fato de que através do relato verbal de um sonho o cliente pode expressar algo que lhe é aversivo ou que demoraria mais tempo para ser elucidado, se expresso de outra forma, o terapeuta pode fazer um bom uso dos sonhos para ajudar o cliente a, cada vez mais, conhecer, compreender as contingências que controlam seu comportamento, e assim, para que este possa chegar cada vez mais ao seu autoconhecimento.
Referências:
BACHTOLD, Luciana. Os sonhos na terapia comportamental. InterAÇÃO, Curitiba, v. 3, p. 21 a 34, jan./dez. 1999
GUILHARDI, H. J. (1995). O modelo comportamental de análise de sonhos. Em B. Rangé (Org.), Psicoterapia comportamental e cognitiva (p. 257-267). Campinas: Editorial
Por: Michele Yenara