terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sonhos na terapia jungiana

Ocorre um fato notável na psicoterapia: você não pode decorar nenhuma receita e aplica-la mais ou menos adequadamente, mas só é capaz de curar a partir de um ponto central; este consiste em compreender o paciente como um todo psicológico e chegar a ele como um ser humano...” C. J. Jung

A psicoterapia junguiana está basicamente interessada no equilíbrio entre os processos conscientes e inconscientes e no aperfeiçoamento do intercâmbio dinâmico entre eles.

Jung desenvolveu algumas técnicas de psicoterapia que buscam estabelecer uma comunicação com o inconsciente, tais como; análise de sonhos, imaginação ativa, caixa de areia, expressão em desenho, entre outras, mas enfatizou que a terapia é um esforço conjunto do analista e do analisando, trabalhando juntos como iguais.

"Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco por meio dos sonhos." C.J.Jung

Os sonhos são pontes importantes entre processos conscientes e inconscientes. Comparado à nossa vida onírica, o pensamento consciente contém menos emoções intensas e imagens simbólicas. Os símbolos oníricos freqüentemente envolvem tanta energia psíquica, que somos compelidos a prestar atenção neles. Para Jung, os sonhos desempenham um importante papel complementar ou compensatório. Eles ajudam a equilibrar as influências variadas a que estamos expostos em nossa vida consciente, sendo que tais influências tendem a moldar nosso pensamento de maneiras freqüentemente inadequadas à nossa personalidade e individualidade. A função geral dos sonhos, para Jung, é tentar estabelecer a nossa balança psicológica pela produção de um material onírico que reconstitui equilíbrio psíquico total.

Mais importante do que a compreensão cognitiva dos sonhos é o ato de experienciar o material onírico e levá-lo a sério. Para o analista junguiano devemos tratar nossos sonhos não como eventos isolados, mas como comunicações dos contínuos processos inconscientes. É necessário que o inconsciente torne conhecida sua própria direção, e nós devemos dar-lhe os mesmos direitos do Ego, se é que cada lado deva adaptar-se ao outro. À medida que o Ego ouve e o inconsciente é encorajado a participar desse diálogo, a posição do inconsciente é transformada daquela de um adversário para a de um amigo, com pontos de vista de algum modo diferentes mas complementares.

No livro de James Albert Hall, Jung e a interpretação dos sonhos: manual de teoria de prática, o autor afirma que no encontro inicial com um provável analisando, os sonhos podem fornecer informações tanto para o diagnóstico quanto para o prognóstico. A interpretação dos sonhos nunca pode substituir uma detalhada entrevista clínica e um exame das condições mentais, os sonhos podem ser de grande ajuda, se forem adequadamente integrados com o restante material clínico. Sonhos recentes, sobretudo os ocorridos após a sessão inicial ter sido marcada, mas antes dela ter acontecido, podem revelar aspectos do atual funcionamento do inconsciente do paciente. Os sonhos que ocorrem no começo da análise apontam, por vezes, para o resultado a longo prazo do problema que apresenta.


Bibliografia:

HALL, James A. - Jung e a interpretação dos sonhos. Manual de Teoria e Prática, São Paulo, Editora Cultrix, 1992

http://www.symbolon.com.br/index2.htm

http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=157&sec=53


Por: Leticia Menezes

Sonhos na Psicanálise


“Os sonhos são verdadeiramente uma estrada real que leva aos recessos inconscientes da mente.” – Freud.

O sonho é um fenômeno da fisiologia humana que sempre despertou muita curiosidade. Para um psicanalista, o sonho representa uma manifestação psíquica ligada à saúde do psiquismo, assim como para um neurologista, o sonho tem a ver com a saúde do processo do sono. Em nenhum outro fenômeno da vida psíquica os processos inconscientes da mente são revelados de forma tão clara e acessível ao estudo.

Segundo a psicanálise, o sonho surge como um recurso do psiquismo para lidar com conteúdos reprimidos e complexos da vida afetiva, assim como para lidar com conflitos difíceis de solucionar na vida de vigília.

O sonho compõe-se de uma elaboração primária no momento em que a pessoa está sonhando e de uma elaboração secundária no momento em que o indivíduo pode recordar-se do sonho e relatá-lo a outra pessoa, quando já está sujeito a algumas distorções da memória e do próprio relato da pessoa. Segundo Freud, os elementos utilizados no sonho são representações fragmentadas da memória, no qual ocorre uma condensação de conteúdos vividos e percebidos durante o dia com os conteúdos mais antigos e reprimidos arquivados numa memória conhecida como inconsciente. O sonho se forma a partir de redes complexas de representações simbólicas que vão expressar-se no enredo do sonho ou manifestar-se de forma incompreensível em sequências de imagens visuais e lingüísticas enquanto se dorme. Sua interpretação pode ser feita no todo ou em partes e requer uma escuta diferenciada e uma análise detalhada.

Para um psicanalista que está familiarizado com os conflitos de seu paciente, os sonhos deste tornam-se um dos instrumentos valiosos no processo terapêutico e no aprofundamento do conhecimento dos mecanismos psíquicos inconscientes que podem estar interferindo no funcionamento psíquico normal.

O conteúdo onírico é de suma importância para a compreensão do inconsciente de quem o produz. Por isso a Psicanálise vê com tanta atenção este produto da mente, que é o sonho. Gastão Pereira da Silva define o sonho de uma forma que bem demonstra sua relevância.

“Uma função psíquica encarregada de compensar, de suavizar, de substituir, mesmo, uma realidade que nos é hostil, por outra, totalmente diferente, onde um novo mundo se descortina diante da alma e onde todas as nossas ações parecem absurdas, justamente porque as mais censuráveis, na sociedade em que vivemos, gozam, enquanto dormimos, de uma espécie de liberdade condicional, quando se expandem nos sonhos.’

As descobertas de Freud, de que os sonhos têm um conteúdo psicológico fundamental revolucionaram o estudo da mente. Antes os sonhos eram tidos como meros efeitos de um trabalho desconexo, provocados por estímulos fisiológicos. Os conhecimentos desenvolvidos por Freud trouxeram os sonhos para o campo da Psicologia e demonstraram que estes são tão somente a realização de desejos, disfarçados ou não, satisfeitos em pleno campo psíquico.

Podemos sintetizar a teoria psicanalítica dos sonhos da seguinte maneira: a experiência subjetiva que aparece na consciência durante o sono e que, após o despertar, chamamos de sonho é, apenas, o resultado final de uma atividade mental inconsciente durante este processo fisiológico que, por sua natureza ou intensidade, ameaça interferir com o próprio sono. Chama-se sonho manifesto a experiência consciente, durante o sono, que a pessoa pode ou não recordar depois de despertar. Seus vários elementos são designados como conteúdo manifesto do sonho. Os pensamentos e desejos inconscientes que ameaçam acordar a pessoa são denominados conteúdo latente do sonho. As operações mentais inconscientes por meio das quais o conteúdo latente do sonho se transforma em sonho manifesto, chamamos de elaboração do sonho.


Por: Isabela Mioto.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sonhos na terapia cognitiva

Na terapia cognitiva, foi percebido que os temas dos sonhos são pertinentes para entender seus os padrões comportamentais observáveis quando o paciente está acordado. Os temas dos sonhos são análogos aos conteúdos com os quais o paciente sofre quando acordado (Beck, 1967). Houve tentativas de relacionar padrões de sonhos a categorias diagnósticas. Porém a terapia cognitiva tem pouco interesse por essa possibilidade. Muito mais importante é o pressuposto de que relatos de sonhos contêm necessariamente informação valiosa sobre os processos cognitivos que participaram da sua gênese.

O modelo cognitivo vê o sonhador como ser idiossincrático e o sonho como uma dramatização de suas crenças sobre si, sobre o mundo e sobre o futuro, sujeitas às mesmas distorções de quando acordado. Beck (1971) afirma que o conteúdo de alguns sonhos tem relação com a personalidade do sonhador, que este contém temas e expectativas de desfechos semelhantes com os pensamentos dele enquanto acordado, e que as mesmas preocupações conscientes são expressas na experiência do sonho. Por conseqüência, examinar os sonhos dos pacientes e considerar as interpretações que eles fazem é uma maneira econômica de descobrir esquemas disfuncionais e estudar os transtornos psicológicos.

São produtos do mundo interior da pessoa que sonha. Isso garante uma coerência entre o sonho e os processos cognitivos durante as vivências acordadas. Os sonhos seriam como expressões temáticas das cognições dos pacientes e não como conteúdos manifestos que devem ser interpretados e decodificados para alcançar o significado mais profundo. Os sonhos devem ser compreendidos em termos dos temas e do contexto de vida e não como termos simbólicos. O conteúdo temático dos sonhos deve ser relacionado diretamente às preocupações do cotidiano do paciente sendo levada em conta a linguagem específica e as imagens deste sonho, pois são importantes para sua compreensão, como também as respostas emocionais do paciente às mesmas. Felicidade, ansiedade, tristeza têm os mesmos efeitos para o paciente tanto no sonho quanto quando acordado.

A pessoa que sonha não é um observador passivo. Ela participa ativamente na integração do material visual com informação emocionalmente carregada proveniente dos temas de sua vida. Dessa forma, ela ativamente dramatiza as crenças sobre si mesma, sobre o mundo e sobre o futuro. O sonho, portanto, é um produto da pessoa que sonha e o material particular que ela introduz no seu sonho vem de suas experiências precedentes e das suas crenças atuais.

O próprio paciente deve interpretar seus sonhos. O terapeuta tem um papel de guia que acompanha e não de um perito que conhece os sentidos dos sonhos, procurando identificar os padrões cognitivos que são ativados durante as vivências do cotidiano e que podem influenciar nos sonhos, pois os processos cognitivos utilizados pelo paciente para lembrar e interpretar os detalhes do sonho necessariamente contém as mesmas distorções que o paciente utiliza habitualmente para interpretar sua realidade exterior.

Tal liberdade permite aos pacientes ter um papel criativo durante a exploração dos conteúdos e entender o seu sentido, e a partir daí conhecer e reconhecer certas crenças fundamentais e distorções cognitivas que influenciam seu cotidiano (Beck, 1971). O paciente pode aprender a identificar uma lição no conteúdo do sonho, que o pode ajudar nos problemas do cotidiano.

A análise dos sonhos pode ajudar a identificar atitudes do paciente que são relevantes para identificar certos sintomas físicos, podendo ser valiosa como via de acesso aos conteúdos cognitivos em casos em que a comunicação direta é difícil. Isso pode ser o caso quando o paciente tem pouca compreensão das suas próprias atitudes, quando tem pouca disposição para se abrir ao terapeuta ou até quando a comunicação é dificultada por se tratar de um paciente que não pertence à mesma cultura que o terapeuta.

Bibliografia:

BECK, J. Terapia cognitiva para desafios clínicos. Porto Alegre: Artmed. 2007.

SHINOHARA, H. . O trabalho com sonhos na terapia cognitiva. Rev. bras.ter. cogn., . 2006, vol.2, no.2, p.85-90. ISSN 1808-5687.

VANDENBERGHE, L. & PITANGA, A. V. A análise de sonhos nas terapias cognitivas e comportamentais. Estudos de Psicologia, Campinas, 2007, vol 24(2), p.239-246.


Por: Daniel Piovesan

Os sonhos na terapia comportamental

B. F. Skinner. Um dos precursores
da Análise do Comportamento

Antes de dizer como os terapeutas comportamentais lidarão com os sonhos de seus pacientes, precisamos dizer que para a Análise do Comportamento, os sonhos nada mais são do que comportamentos encobertos, assim como o pensar e o sentir, mas que se manifestam durante o sono. A única diferença de um comportamento encoberto ou privado para os demais comportamentos, é que eles ocorrem no interior dos indivíduos, sendo portanto, somente acessíveis diretamente ao indivíduo no interior de quem ocorre. Mesmo assim, são tão físicos quanto o comportamento público e por isso podem ser interpretados com os conceitos da ciência do comportamento. E para poder ter acesso a esses comportamentos, o cliente precisa torná-los acessíveis ao terapeuta, e isso só é possível através do relato verbal.

Estes comportamentos, tais como os sonhos, serão importantes para o trabalho em terapia comportamental, uma vez que os terapeutas comportamentais passaram a ver nos sonhos um importante instrumento de coleta de dados, pois, através de um relato de sonho, o terapeuta pode ter acesso a fatos da história passada ou atual do cliente, que diretamente não seriam explicitados ou demorariam mais tempo para sê-lo.

Mas antes de qualquer tentativa de interpretação, é fundamental que o terapeuta comportamental conheça seu cliente e seu repertório para poder fazer uma interpretação funcional do seu sonho, uma vez que não há significados universais, nem resposta única. Deve-se deixar bem claro que a interpretação do sonho não é correta ou incorreta em si mesma. O que importa é a função que a interpretação tem.

O procedimento comumente utilizado quando um cliente leva um sonho para a terapia envolve o sonho ser relatado pelo cliente, sendo até estimulado a escrevê-lo. Em seguida, o terapeuta solicita que o cliente dê sua interpretação acerca de seu sonho, com isso o terapeuta objetiva captar como o cliente integra os dados de seu sonho com sua história de vida e seu contexto atual. Logo após, o terapeuta pode apresentar sua interpretação, ou seja, como sistematiza e integra os dados oriundos do sonho com outros dados trazidos pelo cliente. E, nesse processo, o terapeuta busca dar estímulos discriminativos para o cliente compreender as contingências de reforçamento, que estão em operação. E por fim do processo de análise, o resultado deve incluir previsão e controle do comportamento, e é este resultado que comprovará a utilidade de uma interpretação.

Deste modo, enfatiza-se o uso dos sonhos na terapia comportamental, como mais uma forma, dentro de um processo global, de se buscar dados para que terapeuta e cliente, juntos, possam discriminar quais as contingências de reforçamento que controlam o comportamento deste. Sugere-se que, pelo fato de que através do relato verbal de um sonho o cliente pode expressar algo que lhe é aversivo ou que demoraria mais tempo para ser elucidado, se expresso de outra forma, o terapeuta pode fazer um bom uso dos sonhos para ajudar o cliente a, cada vez mais, conhecer, compreender as contingências que controlam seu comportamento, e assim, para que este possa chegar cada vez mais ao seu autoconhecimento.

Referências:

BACHTOLD, Luciana. Os sonhos na terapia comportamental. InterAÇÃO, Curitiba, v. 3, p. 21 a 34, jan./dez. 1999

GUILHARDI, H. J. (1995). O modelo comportamental de análise de sonhos. Em B. Rangé (Org.), Psicoterapia comportamental e cognitiva (p. 257-267). Campinas: Editorial


Por: Michele Yenara