segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Os sonhos na terapia comportamental

B. F. Skinner. Um dos precursores
da Análise do Comportamento

Antes de dizer como os terapeutas comportamentais lidarão com os sonhos de seus pacientes, precisamos dizer que para a Análise do Comportamento, os sonhos nada mais são do que comportamentos encobertos, assim como o pensar e o sentir, mas que se manifestam durante o sono. A única diferença de um comportamento encoberto ou privado para os demais comportamentos, é que eles ocorrem no interior dos indivíduos, sendo portanto, somente acessíveis diretamente ao indivíduo no interior de quem ocorre. Mesmo assim, são tão físicos quanto o comportamento público e por isso podem ser interpretados com os conceitos da ciência do comportamento. E para poder ter acesso a esses comportamentos, o cliente precisa torná-los acessíveis ao terapeuta, e isso só é possível através do relato verbal.

Estes comportamentos, tais como os sonhos, serão importantes para o trabalho em terapia comportamental, uma vez que os terapeutas comportamentais passaram a ver nos sonhos um importante instrumento de coleta de dados, pois, através de um relato de sonho, o terapeuta pode ter acesso a fatos da história passada ou atual do cliente, que diretamente não seriam explicitados ou demorariam mais tempo para sê-lo.

Mas antes de qualquer tentativa de interpretação, é fundamental que o terapeuta comportamental conheça seu cliente e seu repertório para poder fazer uma interpretação funcional do seu sonho, uma vez que não há significados universais, nem resposta única. Deve-se deixar bem claro que a interpretação do sonho não é correta ou incorreta em si mesma. O que importa é a função que a interpretação tem.

O procedimento comumente utilizado quando um cliente leva um sonho para a terapia envolve o sonho ser relatado pelo cliente, sendo até estimulado a escrevê-lo. Em seguida, o terapeuta solicita que o cliente dê sua interpretação acerca de seu sonho, com isso o terapeuta objetiva captar como o cliente integra os dados de seu sonho com sua história de vida e seu contexto atual. Logo após, o terapeuta pode apresentar sua interpretação, ou seja, como sistematiza e integra os dados oriundos do sonho com outros dados trazidos pelo cliente. E, nesse processo, o terapeuta busca dar estímulos discriminativos para o cliente compreender as contingências de reforçamento, que estão em operação. E por fim do processo de análise, o resultado deve incluir previsão e controle do comportamento, e é este resultado que comprovará a utilidade de uma interpretação.

Deste modo, enfatiza-se o uso dos sonhos na terapia comportamental, como mais uma forma, dentro de um processo global, de se buscar dados para que terapeuta e cliente, juntos, possam discriminar quais as contingências de reforçamento que controlam o comportamento deste. Sugere-se que, pelo fato de que através do relato verbal de um sonho o cliente pode expressar algo que lhe é aversivo ou que demoraria mais tempo para ser elucidado, se expresso de outra forma, o terapeuta pode fazer um bom uso dos sonhos para ajudar o cliente a, cada vez mais, conhecer, compreender as contingências que controlam seu comportamento, e assim, para que este possa chegar cada vez mais ao seu autoconhecimento.

Referências:

BACHTOLD, Luciana. Os sonhos na terapia comportamental. InterAÇÃO, Curitiba, v. 3, p. 21 a 34, jan./dez. 1999

GUILHARDI, H. J. (1995). O modelo comportamental de análise de sonhos. Em B. Rangé (Org.), Psicoterapia comportamental e cognitiva (p. 257-267). Campinas: Editorial


Por: Michele Yenara

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