segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sonhos na terapia cognitiva

Na terapia cognitiva, foi percebido que os temas dos sonhos são pertinentes para entender seus os padrões comportamentais observáveis quando o paciente está acordado. Os temas dos sonhos são análogos aos conteúdos com os quais o paciente sofre quando acordado (Beck, 1967). Houve tentativas de relacionar padrões de sonhos a categorias diagnósticas. Porém a terapia cognitiva tem pouco interesse por essa possibilidade. Muito mais importante é o pressuposto de que relatos de sonhos contêm necessariamente informação valiosa sobre os processos cognitivos que participaram da sua gênese.

O modelo cognitivo vê o sonhador como ser idiossincrático e o sonho como uma dramatização de suas crenças sobre si, sobre o mundo e sobre o futuro, sujeitas às mesmas distorções de quando acordado. Beck (1971) afirma que o conteúdo de alguns sonhos tem relação com a personalidade do sonhador, que este contém temas e expectativas de desfechos semelhantes com os pensamentos dele enquanto acordado, e que as mesmas preocupações conscientes são expressas na experiência do sonho. Por conseqüência, examinar os sonhos dos pacientes e considerar as interpretações que eles fazem é uma maneira econômica de descobrir esquemas disfuncionais e estudar os transtornos psicológicos.

São produtos do mundo interior da pessoa que sonha. Isso garante uma coerência entre o sonho e os processos cognitivos durante as vivências acordadas. Os sonhos seriam como expressões temáticas das cognições dos pacientes e não como conteúdos manifestos que devem ser interpretados e decodificados para alcançar o significado mais profundo. Os sonhos devem ser compreendidos em termos dos temas e do contexto de vida e não como termos simbólicos. O conteúdo temático dos sonhos deve ser relacionado diretamente às preocupações do cotidiano do paciente sendo levada em conta a linguagem específica e as imagens deste sonho, pois são importantes para sua compreensão, como também as respostas emocionais do paciente às mesmas. Felicidade, ansiedade, tristeza têm os mesmos efeitos para o paciente tanto no sonho quanto quando acordado.

A pessoa que sonha não é um observador passivo. Ela participa ativamente na integração do material visual com informação emocionalmente carregada proveniente dos temas de sua vida. Dessa forma, ela ativamente dramatiza as crenças sobre si mesma, sobre o mundo e sobre o futuro. O sonho, portanto, é um produto da pessoa que sonha e o material particular que ela introduz no seu sonho vem de suas experiências precedentes e das suas crenças atuais.

O próprio paciente deve interpretar seus sonhos. O terapeuta tem um papel de guia que acompanha e não de um perito que conhece os sentidos dos sonhos, procurando identificar os padrões cognitivos que são ativados durante as vivências do cotidiano e que podem influenciar nos sonhos, pois os processos cognitivos utilizados pelo paciente para lembrar e interpretar os detalhes do sonho necessariamente contém as mesmas distorções que o paciente utiliza habitualmente para interpretar sua realidade exterior.

Tal liberdade permite aos pacientes ter um papel criativo durante a exploração dos conteúdos e entender o seu sentido, e a partir daí conhecer e reconhecer certas crenças fundamentais e distorções cognitivas que influenciam seu cotidiano (Beck, 1971). O paciente pode aprender a identificar uma lição no conteúdo do sonho, que o pode ajudar nos problemas do cotidiano.

A análise dos sonhos pode ajudar a identificar atitudes do paciente que são relevantes para identificar certos sintomas físicos, podendo ser valiosa como via de acesso aos conteúdos cognitivos em casos em que a comunicação direta é difícil. Isso pode ser o caso quando o paciente tem pouca compreensão das suas próprias atitudes, quando tem pouca disposição para se abrir ao terapeuta ou até quando a comunicação é dificultada por se tratar de um paciente que não pertence à mesma cultura que o terapeuta.

Bibliografia:

BECK, J. Terapia cognitiva para desafios clínicos. Porto Alegre: Artmed. 2007.

SHINOHARA, H. . O trabalho com sonhos na terapia cognitiva. Rev. bras.ter. cogn., . 2006, vol.2, no.2, p.85-90. ISSN 1808-5687.

VANDENBERGHE, L. & PITANGA, A. V. A análise de sonhos nas terapias cognitivas e comportamentais. Estudos de Psicologia, Campinas, 2007, vol 24(2), p.239-246.


Por: Daniel Piovesan

Nenhum comentário:

Postar um comentário